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Um novo nome figura no panteão dos grandes matemáticos do mundo. O carioca Artur Avila, 35 anos, é o primeiro latino-americano a ganhar a Medalha Fields, conhecida como Nobel da área. O prêmio, entregue na terça-feira 12, na Coreia do Sul, é um reconhecimento não só à dedicação de Avila, mas também ao progresso da pesquisa feita no Brasil, encabeçada pelo trabalho de 62 anos do renomado Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Se por um lado a reverência coloca o Brasil no patamar dos grandes centros de inovação, por outro intensifica o contraste com a outra ponta, a educação básica, que ainda patina em problemas como a má formação de professores, revelada principalmente no crítico desempenho dos alunos em exames nacionais e internacionais. Em um sistema de ensino que do primeiro contato com os números até o vestibular prioriza a reprodução de cálculos e fórmulas, o prêmio é um estímulo para que as escolas sigam novos rumos, mais atrativos, criativos e desafiadores aos alunos.
Avila começou a trilhar o laureado caminho ainda criança, em 1992, quando conquistou o bronze ao participar da Olimpíada Brasileira de Matemática. Nos três anos seguintes, colecionou medalhas de ouro. Terminou o ensino médio junto com o mestrado e logo partiu para o doutorado, concluído aos 22 anos. Era cotado para a Medalha Fields desde 2010. Ao longo da carreira, aprimorou-se na área dos sistemas dinâmicos, linha de estudos que investiga a maneira com que os processos irregulares evoluem. “O exemplo mais famoso é a teoria do caos: o bater de asas de uma borboleta em um lugar do mundo poderia afetar o clima em outra parte alguns dias depois”, diz Claudio Landim, diretor-adjunto do Impa e coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). É basicamente prever o futuro a partir de condições do presente.
Baseados em teorias muito distantes da matemática formal, a ensinada na escola, os sistemas dinâmicos têm usos práticos no aprimoramento de conjeturas em áreas como economia e meteorologia. Por exigirem do pesquisador mais raciocínio e capacidade de elucubração, sugerem uma inspiração para o ensino da disciplina na educação básica, considerado desestimulante, desconectado da realidade e baseado mais na memorização do que na reflexão. “O Brasil tem reforçado muito a ideia de ensinar a escrita e a leitura em um contexto relacionado ao uso prático. Ainda não conseguimos fazer isso com a matemática”, afirma Alejandra Meraz Velasco, gerente da área técnica do movimento Todos Pela Educação. “As crianças aprendem a tabuada antes de saber o que é multiplicação. Fica sem sentido e aí a disciplina parece chata.”
CERIMÔNIA
O matemático carioca recebe a premiação na Coreia do Sul na terça-feira 12
Para o professor Nicolau Saldanha, do Departamento de Matemática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o problema começa na formação dos professores. “Mesmo os docentes mais motivados da rede pública têm deficiências. Estão claramente pouco preparados”, afirma. Segundo especialistas, é necessário um aprimoramento da didática para o ensino da ciência em sala de aula. “O profissional pode ter bom conhecimento do assunto, mas se ele não souber como ensinar, como estimular o aluno a aprender, não adianta”, afirma Alejandra. Uma das alternativas à educação tradicional são as competições de matemática. “Na Olimpíada das Escolas Públicas não é exigido conhecimento formal, mas a capacidade de abstração”, diz Landim. “Há alunos que na escola tiram notas ruins, mas se destacam na Olimpíada e descobrem que a matemática pode ser divertida.” O concurso recebe 20 milhões de inscrições por ano e premia seis mil alunos.
A organização da Olimpíada fica a cargo do Impa, que também oferece material didático para alunos e professores e tem atuado para fomentar melhorias no ensino da matemática no País. Com planos de expansão, o instituto deve sediar a Olimpíada Internacional de Matemática em 2017 e a próxima cerimônia de entrega da Medalha Fields, em 2018. Para daqui a quatro anos, apesar de o País mal ter estreado na lista dos premiados, já se cogita outro brasileiro para o “pódio”: Fernando Codá Marques, 34 anos, pesquisador do Impa na área de geometria diferencial e um dos nomes cotados para levar a medalha neste ano. Além das questões práticas que um prêmio desses pode trazer, como fomentar a discussão sobre novas maneiras de aprender matemática, há um alto valor simbólico envolvido. “Mostramos que o Brasil pode ter destaque mundial em diferentes áreas. Afinal, não é só com jogadores de futebol que ganhamos as manchetes”, diz Alejandra. Neste ano, esse não foi um bom exemplo.